domingo, 24 de novembro de 2013

Beijo




Você sabia?
O beijo é o prelúdio do sexo.
Beijar é ceder uma amostra da volúpia.
É inundar a alma de desejo
É se entregar.
E digo mais!
Pecadores são aqueles que beijam por beijar,
por mero capricho
E deixam o prazer em segundo plano.
Beije-o amando, ou ame-a beijar
Beijo é paixão.

sábado, 27 de julho de 2013

Paixonite Agúda

       O médico adentrou a sala. Aparentava meia idade, possuia um ar rabujento. Sentou-se em sua cadeira, mal olhou para seu paciente e começou a rabiscar uma folha. O rapaz, o paciente tão "paciente", esperou que este terminasse o seu dever (ou distração, não sabia ao certo) e olhasse para ele. Até que, depois de um certo tempo e soltando um bufar irritadiço, o doutor se dispôs a perguntar:
    - E então? O que você tem?
    - Seria mais fácil perguntar o que eu não tenho, doutor. - Respondeu prontamente o jovem, completando com uma careta de dor.
    O médico coçou as têmporas, nervoso.
    - Comece então me contando o que exatamente você sente... dessa vez.
    - Nunca fui de sentir isso. Mas, sabe, está se repetindo... São os mesmos sintomas do outro dia, doutor! Taquicardia. Minha boca está extremamente seca, por mais que eu beba água. Minhas mãos estão tremendo e suando, e tem também aquela sensação estranha na barriga. Quase como...
    - "...Quase como borboletas no estômago." - Continou o médico, revirando os olhos. - Olha, da primeira vez que você veio aqui, eu te receitei um calmante leve, pois pensei ser uma crise de nervosismo comum e nada mais. Mas, contando com essa sendo a quinta vez... Não é normal.
    A expressão de dor do rapaz se tranformou em desespero. Mas que merda era tudo isso?
    - O que eu tenho, doutor?! Estou muito doente? EU VOU MORRER, É ISSO?! - Vociferou com lágrimas nos olhos, levantando-se da cadeira e andando de um lado a outro pela sala.
    O médico suspirou, olhando sério para o rapaz. Anos de estudo. Depois, anos de residência... Pós graduação, mais outros estudos em especializações... Para ter que lidar com dramalhões como esse, digno de uma novela mexicana. Mas enfim, os ossos do ofício nunca são tão fáceis.
    - Vou ser direto com você rapaz... Andei analisando seu caso, e o que você tem é grave, sim. Ou não. Tudo depende da situação da outra pessoa em relação a você. - Disse o médico, com um sorrisinho de deboche. - O que você tem é uma "paixonite agúda".
    - Isso... Isso quer dizer que...
    - Sim, você está apaixonado.
    - MAS É CLARO QUE NÃO!
    - O primeiro passo é sempre a negação... - Prosseguiu o doutor, completando com um demorado bocejo.
    - Então... o que devo fazer?
    O doutor parou. Por essa não esperava. Pensou. Não era um perito em paixonites. Pelo contrário, ele mesmo teve apenas uma, que acabou em um casamento maçante, divórcio e uma pensão gorda (que, logicamente, não foi para ele). Então, o que diria para aquela pobre criatura sem noção?
    - Ah... bem... - Suspirou.- Chame-a para sair, oras! E tenho certeza que vou me arrepender disso depois, mas... Daqui alguns dias, volte aqui e me conte como foi.

                                                                       -

    Nove horas da noite. Finalmente, havia acabado o seu plantão. O pobre funcionário da saúde pública chegou em casa, tirou os sapatos e se jogou no sofá. Fora um dia cheio, lotado de pacientes... Lembrou-se daquele rapaz que atendeu a tarde, o da paixonite. Quase riu. Apesar de todo o estresse, tinha que admitir, aquele episódio o havia tirado um pouco da rotina tediosa. Foi até a geladeira, pegar um cerveja. Viu um bilhete deixado por sua filha, sua amada filha, a única parte boa que restou de seu casamento fracassado. Dizia que havia saído para tomar um sorvete com um amigo e logo voltava. "Um amigo". Franziu o cenho. Era um pai ciumento, e sabia bem disso.
    De súbito, a campainha de casa tocou. Foi preguiçosamente atendê-la. E... QUAL não foi a sua surpresa ao abrir a porta?
    Sua filha, de mãos dadas com o rapaz da paixonite.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Vida de cão, vida de gato

     Divagações caninas.

     Perdido em seus pensamentos, o Cão observava seu dono. Tão cheio de si, tão líder! O alimentava, o levava para passear, comprava brinquedos para ele e ainda o fazia carinho. Um vira-latas não podia querer mais nada na vida. E sua missão era fazer de tudo para deixar o humano satisfeito. Por exemplo, fazer o máximo de escândalo quando este retornasse para casa. Pular, lamber, abanar o rabinho. E o humano, mesmo cansado e estressado, dedicava atenção a ele. Era mesmo seu amado, seu dono! Como o adorava. Tentava com todos os seus esforços, fazer seus agrados para ele. Tinha pena do humano ter as patas sempre cobertas por aqueles sapatos que pareciam ser tão incomodos, por isso tratava de dar um fim neles. Seu dono não sofreria nunca mais! Lógico, na maioria das vezes ele não ficava muito satisfeito. Ficava bravo, falava umas coisas em tom alto que pareciam ruins, e o deixava de castigo lá fora. Isso o Cão nunca conseguiu entender. Só queria o bem do seu dono.
     Tirando esses episódios chatos, era feliz. Porém, as coisas começaram a ficar meio complicadas quando um intruso apareceu em seu território.
     Uma bola de pêlos intitulada como Gato.

     Divagações felinas.

     Perdido em seus pensamentos, o Gato observava seu novo humano. Assim como os outros, era um submisso. O servia das mais variadas formas: o alimentava, comprava brinquedos para ele, escovava seus pêlos, o acarinhava. Nada mais que a obrigação dele, oras! Sua missão era a mesma de sempre: dormir. Dormir, dormir e dormir. DE VEZ EM QUANDO, ronronava para o humano, pois achava graça da felicidade boba dele ao vê-lo fazer algo tão corriqueiro. E só pra descontrair, fazia um cocô em alguma parte surpresa da casa. Não ligava pra ira do seu humano depois. Deixava-o "falando sozinho" e ia beber o seu leitinho, relax. E quando o tédio era muito grande, seu passatempo era irritar o Cão. Sabia que este o detestava, pois tinha ciúmes do humano. Tsc, tsc, pobre cachorro bobo e possessivo.
     Enfim, era um gato feliz. Gostava daquela casa. Até simpatizava com o Cão, às vezes. E bom, estava aprendendo a gostar do seu novo humano de estimação... Mas só um pouco.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Amante da Lua

      A Lua, aturdida, amava. Não sabia como, mas amava. Havia um humano. Um humano com uma face pálida e solitária, olhos fixos nela toda noite. De todos os humanos que já a admiraram, esse a havia chamado a atenção. A Lua desejou com todas as forças se desprender do céu, e descer para amá-lo. Mas não podia. A Lua sabia que isso era impossível. Quem cuidaria do céu e das estrelas a noite? Então, ela sonhou durante o dia. E durante a noite, trocava o brilho de sua superfície pelo brilho dos olhos daquele ser. Era assim sua rotina. Era assim que se comunicavam, se amavam. A bela Lua, não sabia se ele entendia que ela também o amava.
    Pois em uma noite dessas, quando estava cheia e mais majestosa do que nunca, não avistou seus olhos luminosos lá embaixo. O procurou, dentre todos os pares de olhos que a admiravam. Nada, nada, nada. Em total desespero, confessou seu segredo à uma estrela, a fim de que esta a ajudasse. A estrela mesquinha, que sempre a invejou, não tardou em espalhar seu segredo e seu martírio dentre todas as contelações. Zombaram de seu amor. Negaram-lhe ajuda. A pobre Lua, então, virou uma piada no céu. Amar um humano. Pff.
    E se seguiu assim. Todas as noites ela procurava aqueles olhos que a amavam. Todas as noites buscava em vão. Ele não estava lá.
    Seu brilho se tornou opaco. Não levantava mais com alegria ao entardecer.
    Mal ela sabia que aqueles olhos ainda a observavam, dentre as frestas de uma pequena janelinha de um sanatório. O rapaz pecou confessando seu segredo aos outros. Estes por sua vez, como as estrelas, zombaram. Mas logo que perceberam a gravidade do problema, o trancafiaram naquele lugar horrendo. Era tido como louco, ridicularizado por seu amor impossível.
    O coitado era um lunático perdido.

domingo, 9 de junho de 2013

Haikai


Um ou outro contendo quatro linhas.

"Como diziam os velhos poetas:
A alma, essa peralta,
Não se aquieta."

"Inspiração
Séculos pra vir,
E quando vem, vem em vão."

"Minha mãe uma vez me disse
Que amor é dor de cabeça.
Mamãe, sempre certa em sua caretice."

"Já não volto mais
Me joguei em um livro
E livro que valha
Não te faz voltar atrás."

"Uma, fria
A outra, quente
Chocaram-se, simplesmente."

"Hoje, acordei
Me arrumei e fui tentar viver
Saí, corri, ri, amei, chorei.
Não me decepcionei."

terça-feira, 28 de maio de 2013

Sem Vergonha

Antes de tudo, alguns avisos: 1) Não, não estou criticando ou mesmo ofendendo qualquer religião ESPECÍFICA. Que fique bem claro. 2) Sim, acredito em Deus. Mas também acredito no amor, independentemente de sexo, classe social, raça, religião ou pokémon favorito. 3) Não gostou do tema? Então, aqui vai uma dica para você: pare e olhe para o próprio umbigo antes de vir falar merda.
Obrigada e boa leitura!
 

     Mais uma vez, lá estava ela, sentada em sua poltrona de frente para a janela do apartamento. Já havia uma semana que sua rotina seguia assim. Chegava em casa, depois do culto, ainda com as palavras do pastor ecoando em sua cabeça. Arrastava a poltrona até a janela, pegava seu velho binóculo... e os observava.
    Seus novos vizinhos.
    Uma abominação.
    Dois homens que se amavam e viviam como um casal! Aquilo a intrigava. A incomodava como nada jamais a incomodou. Se endireitou na poltrona para observar melhor. A porta do apartamento da frente se abriu. Os pecadores chegaram. Pareciam discutir coisas triviais, até que, já de praxe, se beijaram. A espectadora soltou um grunhido de reprovação. Mesmo a uma semana os observando, ainda não conseguia se acostumar com tais demonstrações de afeto. O beijo dos rapazes fora se prolongando, ficando cada vez mais indecente. Somando-se as mãos que deslizavam de um corpo a outro, sedentas. A mulher tapou os olhos, repreendendo-se por estar assistindo aquela cena (novamente). Seu santíssimo pastor sempre dizia o quanto isso era pecaminoso. Abominável aos olhos de Deus. "Sexo em si é sujo, tendo serventia unicamente para a reprodução entre marido e mulher", ele dizia. E sexo entre duas pessoas do mesmo gênero, então? A pobre fiel iludida mal sabia que seu velho pastor era um safado, e dos bons. Principalmente com rapazes entre 16 e 20 e poucos anos.
      Desesperada em suas divagações, mal conseguia se conter de tanta excitação. Sabia que era errado, mas queria ver. Tirou as mãos de frente dos olhos, e viu. Ambos os homens nus. Amando-se, como ela jamais vira em toda sua vida. De lá, conseguia imaginar os gemidos. Enquanto suspirava descompassadamente, tentando se segurar. Sabia como aquilo iria acabar, inclusive para ela. Há dias que pecava assim. Tocava-se vendo dois homens fazendo amor. Seu medo era ir para o inferno. Mal sabia ela que o verdadeiro inferno são os outros.
    Então, mais uma vez, passaria a madrugada rezando e chorando, na esperança de ser redimida de seus desejos mais íntimos.
    Pobre devota... Só queria alguém que a tocasse assim.

sábado, 18 de maio de 2013

Tensão

      Tarde da noite, entrou sorrateiro em casa. Havia acabado de chegar do trabalho, e não queria acordar sua amada. Ah, essa sua esposa. Uma mulher tão doce, linda, gentil, esperta e delicada. Ele a amava muito. Mas havia uma época do mês em que ela se transformava... completamente. Quase uma transformação no estilo "O Médico e o Monstro". E pelo seus cálculos, esses dias de medo e tensão estavam chegando, isso se já não haviam chegado...
    - ISSO SÃO HORAS, AMORZÃO? - Pulou, quase engasgando com a própria saliva. Qual não foi sua surpresa, ligar a luz da cozinha e dar de cara com ela alí. Rosto furioso, olhos vermelhos de quem se acabou de chorar a tarde toda e uma caixa de bombons vazia na mão.
    Ah, os bombons. Devia ter lembrado de trazer uma caixa dos malditos bombons.
    - E-estava fazendo hora extra, minha querida. Pensei que estivesse dormindo, e não queria incomodá-la. - Realmente, ele estava trabalhando. Muitos homens gostam de usar essa desculpa mais do que batida, mas ele não. Nunca foi homem de aprontar, não bebia, mal tinha amigos... Na verdade, era um sujeito bem caseiro e peculiar. Nem mesmo gostava de sair sem a companhia da esposa.
    Mas lógico, ela não acreditou.
    - VOCÊ SE ACHA MUITO ESPERTO, DANDO ESSA DESCULPA? TAVA COM ALGUMA VAGABUNDA POR AÍ, NÃO É?  - Ela gritou. Ele não fez mais que revirar os olhos. Na verdade, não iria se dar ao trabalho de responder. Nesses dias, tudo o que fala é usado contra ele. Mesmo não tendo feito nada. Mas pensou melhor, e decidiu dar alguma resposta. Ela podia se enfurecer mais e jogar algum objeto na direção dele.
    - Bom, você sabe. O escritório está passando por uma má fase, teve corte de funcionários e essa semana estou tendo que trabalhar o dobro e fazer extras. Eu te avisei antes, não se lembra?
    - ISSO NÃO É DESCULPA!
    - Amor, isso não vai nos levar a nada, e...
    - FALA AGORA! ONDE VOCÊ SE METEU ATÉ ESSA HORA?!
    Respirou fundo. Não podia perder a paciência agora. Estava indo tão bem. E, afinal de contas, sabia que isso não era culpa dela. Malditos hormônios, maldita tpm...
    - Olha, vamos pra cama. Eu te conto meu dia enquanto faço uma massagem nos seus pés, pode ser? - Disse, cautelosamente. Mesmo cansado, faria esse sacrifício por ela.
    - PARE DE ME ENROLAR! PENSA QUE TENHO CARA DE TROUXA? ME RESPONDA! OU QUEM VAI DAR DE SAIR POR AÍ E DAR MOLE PRA ALGUM OUTRO, SOU EU!
    Nisso ela foi longe demais. Feriu seu ego de macho. Ameaçar lhe dar um par de chifres! Não mesmo.
    - JÁ QUE É ISSO QUE VOCÊ QUER OUVIR, EU TE DIGO! ESTAVA COM A ESTÁGIARIA GOSTOSA, BEBENDO E ME DIVERTINDO NUM BOTECO LUXUOSO, PAGANDO OS MELHORES DRINKS PRA ELA COM O MEU CARTÃO, DEPOIS FOMOS PRUM MOTEL INCRÍVEL, DAQUELES QUE EU NUNCA TE LEVEI E TRANSAMOS LOUCAMENTE! Satisfeita? - Gritou, transtornado. Já havia perdido a paciência, as estribeiras, tudo. Que se dane! A amava muito, mas não ia continuar se humilhando. Se não queria acreditar na verdade, então que engolisse essa.
    Ela urrou, como um animal. Seu rosto se transformou em puro ódio. Ele se encolheu. "Puta merda, o que eu fiz", pensou arrependido. Mas já era tarde demais.
    Partiu pra cima dele. Começou a esbofeteá-lo com toda a força, enquanto ele segurava seus braços, tomando o máximo de cuidado pra não machucá-la.
    Do nada, ela parou. Ficaram se encarando, olho no olho. E ela começou a chorar como um bebê.
    - Buáaaaaaa, você me ama mesmooooo... Não sei se mereço tanto amor... Snif-snif... - A expressão que ele fez seria digna de pena. Não estava entendendo mais nada! NADA! Sua mulher estava louca, tinha que ser isso. E queria enlouquecê-lo também.
    - Amor, que diabos está acontecendo com você? - Respondeu, finalmente. Mesmo sabendo a resposta.
    - Eu devia ter acreditado em você desde o ínicio... Estava trabalhando mesmo!
    - Ah, é? E como chegou a essa conclusão tão inteligente, Sherlock Holmes? - Disse, com sarcasmo. Já que não lhe restava mais dignidade, o sarcasmo era ainda o que sobrava.
    - Porque, você sabe, estou chegando naqueles dias e os meus nervos estão a flor da pele! - Ela o abraçou. Ele suspirou e fechou os olhos. "Não me diga?", pensou. - Daí, fico louca até se você atrasa... E também...
    - O que?
    - E também porque seu cartão de créditos ficou a tarde inteira comigo... E como estou deprimida, fui comprar "algumas" coisinhas. hihihi. - Ele abriu os olhos, arregalando-os completamente... Merda!
    Essa tpm ainda iria levá-lo a falência.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Irmã de Alma


O tom poético da amizade
Se resume a um olhar
Aquele olhar, que uma lançava a outra
E que tudo entendia, tudo sabia
Sobre o que a outra estava a pensar.

Total nostalgia
Olhar nossas fotos
Lembrar sua risada
E saber que coisas assim
A alma há de guardar
Pra sempre.
(Delicioso sentimento de que tudo um dia irá voltar.)


Dedicado a Janaina Oliveira. Feliz aniversário, adiantado! <3

terça-feira, 7 de maio de 2013

A Morte

         A sete palmos. Era assim que iria estar em fração de segundos. O cano da arma era frio, mesmo sendo pressionado em sua testa. Aquilo o incomodava, definitivamente. E mesmo o homem que estava prestes a pressionar o gatilho estar em um estado deplorável de desespero, tremendo horrendamente, suando e quase chorando, ele sabia que não teria escapatória. Não dessa vez.
        Tudo começou com uma dívida. Drogas. Entenda, ser um dos traficantes mais poderosos da cidade não é pra qualquer um. Agora, como acabou ficando a mercê de um dos monstros que havia criado, um viciado - ou "noiado", como ele mesmo os apelidava -,  disso não fazia ideia. Cobrar alguém que vive em função de um pó ou de uma agulhada no braço nunca lhe pareceu uma tarefa difícil.
        Com toda a calma que podia transparecer, perguntou ao homem que iria matá-lo se acaso podia fumar um cigarro antes de morrer. Foda-se, já havia se cansado de tudo aquilo mesmo. Queria só relaxar, e uma bela tragada sempre o relaxava. Mas somente de cigarro. Sua política era nunca usar umas daquelas merdas que vendia. Eram somente sua fonte de lucro, já viu o suficiente da decadência para saber que não podia viciar em nada que vinha de sua fonte de lucro. Portanto, o doce do tabaco e alguns copos de whisky sempre bastavam.
        O "noiado" gritava, negando o pedido. Oh droga, porque eles sempre tinham que ser tão escandalosos? Que acabasse com aquela palhaçada logo. De repente, em meio ao total desdém que sentia da situação, avistou uma enorme sombra atrás de seu algoz. Arrepiou-se inteiro. A sombra se tornava cada vez mais nítida, conforme se aproximava prostrando-se ao lado do drogado com a arma apontada, que nada percebia. Possuia um enorme manto preto, cujo rosto nunca era visto. Ele sorriu. Finalmente ela havia chegado. Então, seria agora ou não...? Foi com enorme surpresa que viu o homem em estado deplorável que o ameaçara desde então mudar o foco da arma e apontá-la para a própria cabeça. Apertou o gatilho, sem lhe dar tempo de sequer esboçar uma reação.
         O que ouviu depois foi uma risada doce de mulher. A enorme figura negra começava a desaparecer. Não iria pro inferno, ainda não.
        A Morte o poupara mais uma vez.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

A Saga das Sombras

Fanfiction sobre o anime e mangá Yu-Gi-Oh!, de autoria do meu amigo Felipe V. Moreira.
      

  “
Tomo I


         Da Busca de Caius

         Havia os Monarcas. Caius das Sombras, Granmarg da Rocha, Kuraz da Luz, Mobius do Gelo, Raiza da Tempestade, Thestalos do Fogo e Zaborg do Trovão. Seu líder era Caius, cuja ganância sempre o impelia a buscar por mais poder.
Na área mais remota e isolada do mundo, havia o Núcleo Negro, uma imensa massa de energia negativa que sugava para si todo e qualquer ser vivente que se aproximava. E Caius o cobiçou.
        O Monarca das Sombras deixou seus companheiros e partiu. Por rios, florestas e montanhas Caius viajou, sob chuva, neve e tempestade. No extremo Sul do mundo, numa terra devastada e esquecida pelos deuses, Caius encontrara aquilo que veio a tornar-se sua perdição. O Núcleo Negro. A esfera era enorme, tanto que Caius a contemplou com temor. Sua força e poderes de nada adiantaram para tentar conter o Núcleo. Caius fora sugado e jogado em um lugar desconhecido, diferente de seu tempo e espaço, um lugar entre o Nada e o Vazio. E a fúria de Caius foi terrível.

         Da Chegada a Dimensão Diferente
         Caius atacava a esmo, destruía o que podia encontrar. Foi somente quando voltou à sanidade que percebeu que era observado.
       - Lamento por ti e compreendo tua fúria. Eu e meus companheiros também estamos presos aqui. – Disse uma mulher com porte de guerreira.
       - Outros? Existem outros por aqui? – Perguntou Caius surpreso.
       - Sim – respondeu a mulher, - mas nenhum de nós sabe onde estamos exatamente. Tampouco como sair daqui.
       - Entendo. Me leve até eles. - Desejou Caius.
        Caius vislumbrou paisagens destruídas e colinas feitas com escombros, o céu era cinzento de fuligem e trovões o cortavam constantemente. Ao seu olhar, houve uma guerra há muito tempo naquele lugar, e todos haviam perdido. O Monarca avistou guerreiros, magos e máquinas de combate.
 Aproximou-se dos companheiros da misteriosa mulher e perguntou se era possível avistar o Núcleo Negro de algum lugar. Um jovem alquimista disse que sim, guiou-o então pelos labirintos de destroços, rumo a cinco pilares postos em circulo, onde bem ao centro flutuava a gigantesca esfera de energia.
        - Ficarei aqui por uma eternidade se preciso, mas os poderes do Núcleo serão meus! – Disse Caius, com um ar obstinado e com um olhar inflamado que surpreendera o jovem alquímico.

          Da Nova Batalha
          Caius então mais uma vez lutou e se feriu, não fraquejou. Sua ira e força eram tamanhas, que o Núcleo Negro começou a ceder. Vendo isso, o alquimista partiu em disparada em direção aos companheiros e os avisou o que estava acontecendo. Todos foram observar aquele duelo de poderes.
Anos se passaram. Com exceção de Caius, a maioria abandonou as esperanças. Até o dia da boa nova. O Monarca das Sombras conseguira abrir uma fenda dimensional. Por mil vezes Caius fora exultado. Os homens e mulheres que lá habitavam o tomaram por seu líder.
A fenda, porém, era deveras pequena. Fora enviado então por Caius, uma pequena máquina que podia atravessá-la. Caius a ordenou que fosse até os Monarcas e lhes dissesse que seu líder em breve retornaria. Caius por muito tempo lutou para manter a fenda aberta, até que seu mensageiro retornou.
         - Meu senhor fora traído!

         Do Retorno da Dimensão Diferente
         - Delg é seu nome, - continuou o robô – e ele lidera os demais agora meu senhor!
Indizível foi a fúria e o descontentamento de Caius. Numa explosão de loucura e poder, o Núcleo Negro cedeu completamente, tornando-se uma pequena esfera nas garras do Monarca. Caius abriu uma gigantesca fenda dimensional e partiu direto para seu reino.
Por mais mil vezes ele fora exultado. Todos que lá estavam aprisionados voltaram para suas terras de origem. Curiosamente todos eles adquiriram o dom de viajar livremente pelas dimensões.

          Do Fim de Delg
          Os Monarcas foram tomados pela surpresa quando viram Caius surgir em seu meio.
        - O verdadeiro Senhor das Sombras retorna para reclamar seu lugar de direito!
          Delg deu um sorriso com o canto dos lábios e se levantou do trono num salto, avançando em direção a Caius. O Monarca ficou parado, fez um gesto com as garras e entre elas algo estava sendo criado. O Núcleo Negro era agora sua arma. Pequeno, mas mais forte do que nunca fora. Caius o lançou em direção a Delg, que desapareceu na frente de todos, sem deixar vestígio ou lembrança de sua existência.
         Caius tomou de volto seu lugar no trono dos Monarcas como líder. E por um tempo isso foi bom.

         Tomo II

         Do Novo Desejo
        Após o retorno de Caius, muito tempo se passou. O Monarca das Sombras, porém, não estava satisfeito. Seu reino lhe parecia pequeno e viagens dimensionais não o interessavam mais. Estava entediado e buscava desafios e conquistas.
       Caius foi ter então com Kuraz, o Senhor da Luz, que dentre os Monarcas era o mais sábio.
       - Meu senhor anseia por conquistas e por isso viestes até mim? Contarei então as notícias do mundo, do mar e de além dele. – Disse Kuraz.
         O Monarca da Luz contou histórias, boatos e fatos sobre o que o estava ocorrendo no mundo. Caius ficou admirado com o Mundo Escuro. – Grapha é o governante de lá meu senhor. O Mundo Escuro é grandioso e digno de vossa majestade. – Incentivou Kuraz. E Caius o cobiçou.

         Da Ordem do Imperador
         Na manhã seguinte, Caius convocou uma assembleia com os demais Monarcas.
       - Irmãos! Senhores dos elementos! – Iniciou Caius – Hoje nossos reinos se expandirão, pois tomaremos o Mundo Escuro! Expulsaremos a corja que o habita e obteremos êxito na nova campanha! Pois assim ordeno!
         A obstinação estava na voz, nos olhos e na postura de Caius, que inflamou o desejo da guerra nos Monarcas.

        Da Marcha dos Monarcas.
        Marcharam então os Monarcas. Para os portões do Mundo Escuro. Escuro e soturno era o portão. Colossal como um antigo deus de pedra. Envolto por uma névoa sombria e pegajosa. Até o portão marcharam.

        Das Especulações
         É aqui que se perdem na história quaisquer relatos sobre Caius, os Monarcas e sua investida ao Mundo Escuro. Alguns dizem que eles venceram os senhores do Mundo Escuro e que lá habitam agora. Outros, que Caius e os Monarcas foram mortos por Grapha e seus seguidores. E outros ainda dizem que os Monarcas foram aprisionados, e que Caius os deixou e fugiu para a Dimensão Diferente.
        Seja qual for a verdade, ela se perdeu no tempo, mas a saga se eternizou num poema, de um bardo a muito esquecido também.


       Escuridão
       [Conquista]
“Granmarg, Kuraz, Mobius, Raiza, Thestalos, Zaborg
E Caius era seu Senhor.
Rocha, Luz, Gelo, Tempestade, Fogo, Trovão
As Sombras que governam.

Pela esfera negra o Senhor Escuro sentiu cobiça
Buscou
Lutou
Caiu.
Por anos a desejou mais
Novamente buscou
Lutou
Conquistou.

O Núcleo Negro era seu.

[Batalha]
O imperador ordenou
Junto aos Monarcas ele marchou
Ao Grande Portão chegou
...”

[Silêncio. Rufar de tambores. Fecham-se as cortinas.]
 


sábado, 4 de maio de 2013

Scribere

     A menina pegara um pequeno livro de contos infantis da escola. Havia acabado de aprender a ler e a escrever, e com isso sua sede por conhecimento era maior do que nunca. Aprendendo palavras novas, pouco a pouco, e se deliciando com o livro, ela perdeu-se no encanto das páginas. Foi amor à primeira leitura.
    A partir desse dia, Alice decidiu ser escritora.
    Isso aconteceu a muitos anos atrás, quando tinha apenas sete anos de vida. Hoje, Alice está nesse mundo a quase duas décadas, e seu passatempo favorito (depois de ler, é claro) é escrever. Alice escreve o que lhe fala o coração. Começou com algumas poesias na escola, ainda pequena, cujos versos lhe renderam prêmios. Desde então, Alice viciou. Passou a escrever um pequeno diário aos oito anos. A escrever contos, aos dez. Prosas, aos doze. E com quinze, já sonhava em publicar um livro. E não foi encanto de criança, ou depois, uma teimosia da adolescência, como seus pais pensavam. O amor pela escrita só amentou... Ou melhor, aumenta cada dia mais. Já está no segundo ano de Letras, estuda loucamente suas matérias e seus escritores favoritos (seus heróis, como ela mesma os chama), e o melhor de tudo, lê muito. Certo dia, perguntaram a ela o porquê de tudo isso. Alice respondeu simplesmente que não sabia. Que sua alma pertencia a poesia, às letras, e ponto. Talvez, fosse uma herança de família, da parte de algum avô, tio, bisavô, ou o que for. Ou ainda, que de tantas crianças nascidas no mesmo dia, na mesma hora e no mesmo instânte, o Destino decidiu que esse seria o seu dom: passar pro papel o que a sua alma sente.
    Sendo assim, a jovem não se abalava com quem críticava seu amor ou dizia que estava perdendo tempo. Que podia muito bem estudar para ser advogada, médica, engenheira, ou o que for. O que ela dissera a si mesma aos sete anos não mudara. Alice iria ser uma escritora.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Prosa poética ao grande amor.

"Acho que eu não seria eu
Se eu não te queresse tanto
Não achonchegaria minha loucura
Na sua terna lucidez
Seria uma casca oca
Uma alma errante
Sem alguém pra chamar de meu.
Não sonharia como sonho
Com o nosso amor no seu ápice
Entrelaçando minhas pernas nas suas
Tranbordando ao mundo meu desejo
Por sua pele, por seu cheiro.
Rindo dos que não acreditaram em nós,
Desvairada de alegria
Se não fosse assim, não seria mais eu
Não como sou nós,
Não como sou sua e você é meu.
Eu, que antes tinha a ti
Como minha busca primordial
Hoje tenho a ti
Como minha queda e minha vitória...
...Minha queda por seus encantos
Minha perca por seus olhos
Minha entrega pelos seus lábios doces
Minha vitória ao dormir sabendo que és meu.
"Se entregar a outra pessoa assim, é insanidade total";
É o que disseram pra mim.
Que dó de mim, por te amar tanto assim!"

Dedicado ao meu Devous.

domingo, 28 de abril de 2013

Véu do Tempo


       Gritou.

       Seus lamentos ecoaram pelo grande salão. Jogou o espelho ao longe. O que vira destruiu sua alma, que antes já era podre. Um rosto horrendamente enrugado e retorcido numa careta permante de dor a fitara. "Não é possível", gritou. "Essa coisa não sou eu!"
Sua pele, lisa como uma pêra, havia se transformado do dia para a noite, literalmente. Acordara naquela manhã de sábado, em sua bela mansão, e estava assim. Seus lábios, antes sedosos e rosados, que muitos haviam seduzido, eram agora secos e hediondos. Seus olhos, grandes e brilhantes, eram agora duas grutas fundas e sem vida. Seus cabelos, que emolduravam sua face em enormes cachos dourados, já não passavam de meros fios brancos e ralos. Passara sua vida cuidando de sua jovialidade, de sua beleza tão admirada e, até então, intocada pelo tempo. Desperdiçara os simples e sublimes encantos das fases de sua existência, concentrando-se unicamente na vaidade, no grande ego que alimentava e que crescia cada vez mais. Pois então, sua vida não fazia mais sentido.
        Depois de quase sessenta anos se divertindo com sua podridão tão humanamente tola, o Tempo cansou-se de brincar, e a apunhalou. Ela, por fim, deixou loucura e ódio transparecerem. Finalmente, a casca refletia a alma.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

"Entre aspas"

Tudo o que se escreve "entre aspas", tem um significado oculto. Ou não. Assim é esse título. Talvez seja por isso que gosto tanto de aspas, soam quase como uma tangente na frase. Uso aspas quanto estou sendo irônica com alguém, ou quando quero dar um exemplo, uma breve descrição de algo. Quando estou "brincando-falando-sério" também. Viu só? É quase inconsciente. As aspas estão até nos meus gestos, quando falo algo não-literal e faço " " com os dedos. Até na fala, na ênfase que dou ao falar algo "entre aspas".  Ganhei esse amor por aspas aos sete anos de idade, quando aprendi a ler e a escrever e peguei um livro recheado (da forma correta) delas. Levam a frase ao ponto que você quer chegar de forma informal, brincam com as palavras, deliciam o cérebro ao devorá-las, como um tempero... Lógico, não são tão deliciosas como livros, sexo, chocolate e cerveja. Não há nada como livros, sexo, chocolate e cerveja (deixo claro que não necessariamente nessa ordem). Porém, é preciso lembrar que aspas devem ser usadas com moderação, ou então o texto se torna algo maçante, quase como alguém que não sabe beber - assim como, literalmente, acontece com a cerveja em questão, mas isso não importa agora, só vai ser importante depois da leve ressaca no dia seguinte.

Primeiríssimo


Isso mesmo. Finalmente, tomei vergonha na cara (por assim dizer) e fiz um blog para publicar meus escritos. Não, isso não será um blog "pessoal". Nem um blog propriamente dito de poesias, ou contos. Será um blog de pensamentos. Pequenas (ou não) ideias paralelas, crônicas, entre outras coisas. Críticas construtivas serão sempre bem vindas. E boa leitura!