sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Promessa de Ano Novo

         Era noite de ano novo, e a jovem N. estava sentada sozinha em casa. Acabara de chegar do trabalho, um fast food em um grande shopping center. Havia anos, não comemorava o ano novo. Não tinha amigos ou namorado. Seus únicos parentes vivos só a visitavam se alguma desgraça acontecia. Não saia de casa, não tinha grandes expectativas em sua vida monótona e solitária. Vivia do trabalho e só pra ele vivia.
        Mas ela não ligava pra isso. Afinal de contas, estava acomodada naquela vidinha. Quem precisa de pessoas quando se tem televisão, computador, moto, e uma casa enorme? Pff...
        Só uma coisa conseguia incomodá-la. Quando essa maldita época chegava. Ah, a época da "união", em que as pessoas se tornavam (ainda mais) insuportávelmente alegres e comemorativas. Era a única data que fazia N. repensar o sentido de sua vida, o que fizera até então. Então, sentia um aperto no peito ao pensar que seus únicos feitos em mais aquele ano foram apenas materiais ou profissionais. Um celular de última geração, as roupas da moda, ser a funcionária do mês em 8 dos 12 meses do ano, ser promovida... Mal se lembrava como era ser beijada, abraçada por um ente querido ou um amigo, construir um laço afetivo...
       Mas aquele ano iria ser diferente. Enquanto todos faziam listas e listas de promessas pra 2014, N. só tinha uma promessa a fazer.

       Iria VIVER. No mais pleno sentido da palavra.

       (Há exatos 4 anos, todo dia 31 de dezembro às 23:59, N. faz para si a mesma promessa.)