sábado, 18 de maio de 2013

Tensão

      Tarde da noite, entrou sorrateiro em casa. Havia acabado de chegar do trabalho, e não queria acordar sua amada. Ah, essa sua esposa. Uma mulher tão doce, linda, gentil, esperta e delicada. Ele a amava muito. Mas havia uma época do mês em que ela se transformava... completamente. Quase uma transformação no estilo "O Médico e o Monstro". E pelo seus cálculos, esses dias de medo e tensão estavam chegando, isso se já não haviam chegado...
    - ISSO SÃO HORAS, AMORZÃO? - Pulou, quase engasgando com a própria saliva. Qual não foi sua surpresa, ligar a luz da cozinha e dar de cara com ela alí. Rosto furioso, olhos vermelhos de quem se acabou de chorar a tarde toda e uma caixa de bombons vazia na mão.
    Ah, os bombons. Devia ter lembrado de trazer uma caixa dos malditos bombons.
    - E-estava fazendo hora extra, minha querida. Pensei que estivesse dormindo, e não queria incomodá-la. - Realmente, ele estava trabalhando. Muitos homens gostam de usar essa desculpa mais do que batida, mas ele não. Nunca foi homem de aprontar, não bebia, mal tinha amigos... Na verdade, era um sujeito bem caseiro e peculiar. Nem mesmo gostava de sair sem a companhia da esposa.
    Mas lógico, ela não acreditou.
    - VOCÊ SE ACHA MUITO ESPERTO, DANDO ESSA DESCULPA? TAVA COM ALGUMA VAGABUNDA POR AÍ, NÃO É?  - Ela gritou. Ele não fez mais que revirar os olhos. Na verdade, não iria se dar ao trabalho de responder. Nesses dias, tudo o que fala é usado contra ele. Mesmo não tendo feito nada. Mas pensou melhor, e decidiu dar alguma resposta. Ela podia se enfurecer mais e jogar algum objeto na direção dele.
    - Bom, você sabe. O escritório está passando por uma má fase, teve corte de funcionários e essa semana estou tendo que trabalhar o dobro e fazer extras. Eu te avisei antes, não se lembra?
    - ISSO NÃO É DESCULPA!
    - Amor, isso não vai nos levar a nada, e...
    - FALA AGORA! ONDE VOCÊ SE METEU ATÉ ESSA HORA?!
    Respirou fundo. Não podia perder a paciência agora. Estava indo tão bem. E, afinal de contas, sabia que isso não era culpa dela. Malditos hormônios, maldita tpm...
    - Olha, vamos pra cama. Eu te conto meu dia enquanto faço uma massagem nos seus pés, pode ser? - Disse, cautelosamente. Mesmo cansado, faria esse sacrifício por ela.
    - PARE DE ME ENROLAR! PENSA QUE TENHO CARA DE TROUXA? ME RESPONDA! OU QUEM VAI DAR DE SAIR POR AÍ E DAR MOLE PRA ALGUM OUTRO, SOU EU!
    Nisso ela foi longe demais. Feriu seu ego de macho. Ameaçar lhe dar um par de chifres! Não mesmo.
    - JÁ QUE É ISSO QUE VOCÊ QUER OUVIR, EU TE DIGO! ESTAVA COM A ESTÁGIARIA GOSTOSA, BEBENDO E ME DIVERTINDO NUM BOTECO LUXUOSO, PAGANDO OS MELHORES DRINKS PRA ELA COM O MEU CARTÃO, DEPOIS FOMOS PRUM MOTEL INCRÍVEL, DAQUELES QUE EU NUNCA TE LEVEI E TRANSAMOS LOUCAMENTE! Satisfeita? - Gritou, transtornado. Já havia perdido a paciência, as estribeiras, tudo. Que se dane! A amava muito, mas não ia continuar se humilhando. Se não queria acreditar na verdade, então que engolisse essa.
    Ela urrou, como um animal. Seu rosto se transformou em puro ódio. Ele se encolheu. "Puta merda, o que eu fiz", pensou arrependido. Mas já era tarde demais.
    Partiu pra cima dele. Começou a esbofeteá-lo com toda a força, enquanto ele segurava seus braços, tomando o máximo de cuidado pra não machucá-la.
    Do nada, ela parou. Ficaram se encarando, olho no olho. E ela começou a chorar como um bebê.
    - Buáaaaaaa, você me ama mesmooooo... Não sei se mereço tanto amor... Snif-snif... - A expressão que ele fez seria digna de pena. Não estava entendendo mais nada! NADA! Sua mulher estava louca, tinha que ser isso. E queria enlouquecê-lo também.
    - Amor, que diabos está acontecendo com você? - Respondeu, finalmente. Mesmo sabendo a resposta.
    - Eu devia ter acreditado em você desde o ínicio... Estava trabalhando mesmo!
    - Ah, é? E como chegou a essa conclusão tão inteligente, Sherlock Holmes? - Disse, com sarcasmo. Já que não lhe restava mais dignidade, o sarcasmo era ainda o que sobrava.
    - Porque, você sabe, estou chegando naqueles dias e os meus nervos estão a flor da pele! - Ela o abraçou. Ele suspirou e fechou os olhos. "Não me diga?", pensou. - Daí, fico louca até se você atrasa... E também...
    - O que?
    - E também porque seu cartão de créditos ficou a tarde inteira comigo... E como estou deprimida, fui comprar "algumas" coisinhas. hihihi. - Ele abriu os olhos, arregalando-os completamente... Merda!
    Essa tpm ainda iria levá-lo a falência.

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