domingo, 28 de abril de 2013

Véu do Tempo


       Gritou.

       Seus lamentos ecoaram pelo grande salão. Jogou o espelho ao longe. O que vira destruiu sua alma, que antes já era podre. Um rosto horrendamente enrugado e retorcido numa careta permante de dor a fitara. "Não é possível", gritou. "Essa coisa não sou eu!"
Sua pele, lisa como uma pêra, havia se transformado do dia para a noite, literalmente. Acordara naquela manhã de sábado, em sua bela mansão, e estava assim. Seus lábios, antes sedosos e rosados, que muitos haviam seduzido, eram agora secos e hediondos. Seus olhos, grandes e brilhantes, eram agora duas grutas fundas e sem vida. Seus cabelos, que emolduravam sua face em enormes cachos dourados, já não passavam de meros fios brancos e ralos. Passara sua vida cuidando de sua jovialidade, de sua beleza tão admirada e, até então, intocada pelo tempo. Desperdiçara os simples e sublimes encantos das fases de sua existência, concentrando-se unicamente na vaidade, no grande ego que alimentava e que crescia cada vez mais. Pois então, sua vida não fazia mais sentido.
        Depois de quase sessenta anos se divertindo com sua podridão tão humanamente tola, o Tempo cansou-se de brincar, e a apunhalou. Ela, por fim, deixou loucura e ódio transparecerem. Finalmente, a casca refletia a alma.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

"Entre aspas"

Tudo o que se escreve "entre aspas", tem um significado oculto. Ou não. Assim é esse título. Talvez seja por isso que gosto tanto de aspas, soam quase como uma tangente na frase. Uso aspas quanto estou sendo irônica com alguém, ou quando quero dar um exemplo, uma breve descrição de algo. Quando estou "brincando-falando-sério" também. Viu só? É quase inconsciente. As aspas estão até nos meus gestos, quando falo algo não-literal e faço " " com os dedos. Até na fala, na ênfase que dou ao falar algo "entre aspas".  Ganhei esse amor por aspas aos sete anos de idade, quando aprendi a ler e a escrever e peguei um livro recheado (da forma correta) delas. Levam a frase ao ponto que você quer chegar de forma informal, brincam com as palavras, deliciam o cérebro ao devorá-las, como um tempero... Lógico, não são tão deliciosas como livros, sexo, chocolate e cerveja. Não há nada como livros, sexo, chocolate e cerveja (deixo claro que não necessariamente nessa ordem). Porém, é preciso lembrar que aspas devem ser usadas com moderação, ou então o texto se torna algo maçante, quase como alguém que não sabe beber - assim como, literalmente, acontece com a cerveja em questão, mas isso não importa agora, só vai ser importante depois da leve ressaca no dia seguinte.

Primeiríssimo


Isso mesmo. Finalmente, tomei vergonha na cara (por assim dizer) e fiz um blog para publicar meus escritos. Não, isso não será um blog "pessoal". Nem um blog propriamente dito de poesias, ou contos. Será um blog de pensamentos. Pequenas (ou não) ideias paralelas, crônicas, entre outras coisas. Críticas construtivas serão sempre bem vindas. E boa leitura!