quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

A Fênix

"Me vi caindo do décimo terceiro andar de um prédio em chamas.
Caí ao chão sem sentir nada. Nenhum arranhão, nenhuma torsão, nem uma dor sequer.
Passado o choque inicial da queda, veio a excitação em cada célula do meu corpo, a vontade de correr dali.
Tomou conta e me inebriou.
Pássaros de fumaça e cinzas ao céu estrelado, gritos e pedidos de socorro se apagando.
Levantei e caminhei rapidamente, esquecendo o inferno do cenário catastrófico.
Cheguei em casa, joguei água no rosto, me joguei na cama.
Quando sentiria algo novamente? Queria sentir; queria, mas não podia.
Nem mesmo queimar como eles queimaram, nem mesmo o fogo ousava me tocar e destruir.
A mente em estado de frenesi,
títulos de Ginsberg e Rimbaud à cabeceira me observavam em expectativa.
Almas inquietas, que enxergavam em excesso, dom e maldição.
Notas de um velho blues vindo do boteco da esquina, ecoando pela rua.
Recapitulei meus demônios, meus heróis, meus anjos e meus mártires.
Anos, décadas, séculos, milênios em monstruosidade, volúpia, luxúria escarlate.
Havia sangue em minhas veias, sim... Mas era frio, era morto.
Então, tomei a decisão: daria cabo ao desespero.
Quem me tornei? De que matéria meu corpo era feito?
Eu, barbado que era, me permiti chorar como uma criança, pois mataria quem ou o que me tornei.
Buscaria o sonho de sentir.
Sentir a dor.
O ápice.
Queimar!
E por fim, renascer das cinzas do que fui
em algo novo e totalmente diferente.
Até o eterno ciclo se repetir."



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